Aqui estou.
O ar que respiro vem dos tubos, o soro desce em minhas veias.
Vejo mais de olhos cerrados porque encontro a mim mesmo.
Um plano de vida em pausa, vislumbrando a gratidão dos companheiros que me atendem.
De olhos abertos vi pessoas desconhecidas, cumprindo seu dever, todos iguais a mim, envolvidos na lide diária pelo pão de cada dia.
Já não imagino que têm de me servir, olho à volta e vejo que só sou mais um.
Diferente mesmo é o olhar de cada um, o toque em meu corpo, a vós que me dirigem.
Apesar dos anseios, sinto uma vibração diferente, igual ao abraço de meus pais.
Todo o cuidado que me dirigem me faz lembrar as orientações recebidas:
“Não beba. Não beba, se for dirigir, não beba.”
Horas antes de vir para este lugar, a euforia tomou conta do meu ser.
Havia concluído meu curso se medicina.
A missa, a festa, tudo era alegria, não me dei conta do que sucederia.
Um golinho de vodca, whisky e outros, não me achava sóbrio, só alegria.
Alegre saí pela estrada, com meus outros quatro colegas.
Uma curva, o abismo. Agora aqui estou.
Reflexões que se iniciam, do que fiz e do que deixei.
Neste hospital tudo é diferente do que vi e estudei.
Vejo mais de olhos fechados, outras épocas, outras eras, onde a euforia e uns golinhos me impedira de viver os planos que tenho.
Será que assim será de novo?
Felipe.